quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Vazio

Quanto tempo ela não passava por aqui. Sentia falta de escrever, sentia falta de
pensar, estava carente dela mesma, das suas letras embriagadas, da sua embriaguês. Era preciso retomar os ideaisrelembrar amigos, conversar, era preciso precisar... 

Que bobagem!! Ela está aqui, tentando versar sobre coisas, sem muito o que pensar, sem ter o que fazer, sem ter com quem falar. Apenas na obrigação de ter que deixar um blog atualizado, numa situação de desabafo consigo mesma.


Que vazio!! Os pensamento descem pelo vazo, numa única descarga. O cheiro exalava do ralo como num filme sem tom. O cheiro do blog que não supera uma conversa a deux,troiquatre
...

Era preciso novas idades, era preciso ele na sua vida, era preciso você, era preciso pessoas que fariam sentido na sua vida, era preciso a vida...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Procura-se um marido

Qual a mulher que não sonha com o príncipe encantado? Desde de criança, envoltas às fábulas alucinógenas do principado europeu, a criança mulher se espelha no objeto daquele consumo. Se faz, por vezes, substituir o nome de batismo pelo pseudônimo daquela figura com quem matem características fiéis de sonhos infindáveis. Basta agradar-lhe num sapatinho de cristal rosa e plumas esvoaçantes, para que a criança mulher se sinta a própria princesa dos contos de fadas. Enquanto isso, alguns pais, por incessante busca pela felicidade da filha, se entregam aos sonhos da menina que se segue no mundo das utopias. O que, por sinal, pode ser um erro grave de destino, afinal, esquecem-se daquilo que poderiam considerar como o mais importante para o futuro desta criança: a realidade.

Enquanto adolescente, a menina carrega consigo toda a fantasia lida. O sapatinho de cristal é guardado numa gaveta enquanto surgem outros objetivos indispensáveis na agregação da incansável busca do príncipe encantado. Para retorná-lo ao mundo atual, dividida entre fantasias e realidades, namora-se daqui, namora-se dali. Enquanto namora, observa. Enquanto observa, decisões lhe vêem à cabeça. A ausência de ações nobres não lhe permite continuar com aquele namorado, mas, continuar namorando. E, na sua lista de excluídos, nomes ricos e pobres são riscados. Mas, por onde anda o príncipe encantado que nunca chega? A hipótese do destino lhe vem à cabeça. Será que não é princesa? Seu pai nunca lhe dissera a verdade. Deixara acreditar que era a mais bela de todas.

Finalmente, o sonho acontece. Encontra o príncipe encantado. Casam-se, tem filhos.  Acredita que irá morar num castelo com um bosque a perder de vista. Acredita na felicidade eterna e, principalmente, acredita fielmente naquele homem que conseguiu lhe calçar os sapatinhos engavetados. Ao abrir os olhos, se depara com gotas pingando do teto do seu castelo. Levanta. Vai até a janela e observa a paisagem. Decepciona-se ao ver que o seu bosque se transformou num imenso lamaçal, obscuro e cinzento, coberto por cobras enlouquecidas para lançar seus venenos mais carbunculosos. Infeliz e decepcionada, volta para a cama. Lamenta-se ao marido, seu príncipe. E, entre conversas, descobre que ele é o seu maior inimigo. Para não se entregar à desilusão, abraça-se àqueles que lhe restam como parte íntegra da sua sobrevivência: os filhos. Entre idas e vindas, procura outra vida, outro marido.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sinto como Clarice


Assim como Clarice, para você não interessa o que penso. Para mim, você não teria competência para compreender tudo o que penso. Com você, contento-me com o sentimento de dizer o que penso e com a aflição de pensar no que dizer.

Assim como Clarice, tenho preguiça de quem não comete erros. Dos que se julgam parte intocável de um discurso. Dos providos da mesmice. Dos que não sentem dor, angústia, indignação. Dos sem coração.


Assim como Clarice, tenho defeitos. Sou volúvel. Embebedo-me de atitudes Contestáveis. Sou viciada em gente, sou viciada nos prazeres da vida e, ao mesmo tempo e com o mesmo desejo, adoro o tempo de ficar só. O meu melhor prazer é sentir... sentir... sentir... e eu sinto!


Assim como Clarice, às vezes, não sinto a razão. Às vezes não sinto você. À vezes a sua liberdade oculta o meu sentir. Necessito do verbo. Sinto por escrever, sinto por pensar, sinto por saudade, sinto por amor, sinto por ódio, sinto por desejo, sinto por medo ou apenas pela vontade de sentir.


Vivo pra sentir. Sinto para viver. Sou assim. E, sentirei sempre e falarei sempre tudo o que sinto. Não! Não escrevo para os outros. Escrevo pra mim mesma a intensidade do meu sentir e tudo mais o que possa existir. Escrevo agora o que estou sentindo. E, convido a quem quiser sentir para sentir-me, assim como Clarice.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A mulher do tempo

Conta-se que, naquele tempo, a mulher que tomava conta dos filhos e não trabalhava fora, não tinha valor. Se dedicasse a vida doméstica e aos cuidados com o marido, não recebia amor. Era o lixo do luxo que, conta-se naquele tempo, se aprimorava das conquistas mulheris. Conta-se que, em outros tempos, se arranjava aos 15. Mas, ela tinha 25 quando se apaixonou. Fenômeno presente no tempo ao qual se entregou.

Teve filhos que, em outros tempos, a chamariam de avó. Mas, nada como novos tempos para remoçar a mulher só. Freqüente em academias (jornalismo, letras e geografias) mulher do tempo, sem contentamento. A instância da paixão fizera esquecer as responsabilidades que virão. Crias, criadas, marido na escalada determinaram a objetividade abalada. Veio a Depressão.

O desrespeito abria a porta. O marido a recriminava enquanto o álcool a acalentava. Conta-se que, naquele tempo, a feminina submissão não fazia parte da união. O que fazer, então? O tempo daquele tempo não dera chances à profissão. A família do amancebado aplaudira a devastação enquanto o objeto da paixão não demonstrara qualquer manifestação. Conta-se que, naquele tempo, o ódio se sobrepôs ao perdão.

Mas, a mulher daquele tempo cultivava mais amor do que paixão. Uma incansável busca pela edificação. A proposta era familiar. Mas, conta-se que, naquele tempo, para a harmonia do lar, bastava-se o endinheirar. O amancebado desconfiara de qualquer solucionar. O desprezo e o descrédito eram constantes àquela mãe secular. Mãe, mulher, estudante, dona de lar. Naquele tempo, valor algum, amancebado havia de dar.

A mulher daquele tempo, setenta quilos havia de pesar. Tempo em que a melancolia ocuparia seu lugar. Conta-se que, naquele tempo, nenhum tratamento poderia solucionar a dor e o sofrimento do verbo escutar. Casa, marido e filhos? A qual desses dedicar? Conta-se que, naquele tempo, dizia o ditado: “você em primeiro lugar”. Porém, a mulher daquele tempo, não saberia decifrar. Filhos antecedem a qualquer posicionar.

Brigou, lutou, gritou, questionou. De nada adiantou. Seu caminho estava traçado. Cuidar dos filhos era o destinado. E, depois de tantas tentativas, segue na profissão do lar. A mulher daquele tempo saberia que as crias seriam a sua melhor fatia. Conta-se que, naquele tempo, com o mundo às avessas, aos filhos não subestimaria a graça da tutoria. Naquele tempo, somente ela saberia resultar a arte de educar. E, os séculos conflitantes entenderão o seu calar.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Conversas de portão

A vizinha de pele branca tinha cabelos negros de origem africana. A mancha de sol no rosto caía-lhe como um charme, ao qual também faziam-lhe parte: os lábios carnudos, os seios fartos e a bunda ausente. Morava num bairro periférico. Não trabalhava, não namorava, mas, mantinha uma vaidade de quem o fizesse. Quando chegasse o sábado, preparava para assentar o seu cabelo de fuá. Pintava as unhas dos seus dedos cabeçudos e punha-se a sentar no portão da sua casa. Objetivo? Ver a vida passar. Sempre rodeada de amigos, os mesmos vizinhos. Gostava de fumar hollywood e beber brahma. O sorriso largo mostrava os dentes brancos, bem tratados. Diziam as más línguas, que era solteirona e virgem. Nada a se provar.

Duas casas depois da sua, morava uma menina branca, franzina, também, de cabelos de fuá. A menina era criada pela avó que não a deixava sair para muito longe. Ficava sentada no portão de sua casa, observando a felicidade da vizinha envolta aos amigos no portão. E, sempre se perguntando: "o que tanto riam eles por ali?". A avó da menina franzina tinha uma relação de mãe e filha com a vizinha. Durante longos anos, todo aniversário da vizinha, a avó da menina franzina lhe dava um ouro por estima. A avó, que também gostava de se envaidar, sempre pedia à vizinha que a ajudasse com os cabelos loiros pintados. A vizinha prendia-lhe os bobs como se fosse uma profissional. No final, recebia um maço de cigarros hollywood como pagamento (ação muito comum para a época).

Os anos passam, a menina franzina, de cabelo de fuá, está com doze. Seu cabelo parece ter piorado com a chegada da puberdade. Quase não se via o rosto delgado, escondido debaixo da cabeleira. Bom cabelo, não fazia à mocinha. A avó, preocupada com aquilo, decide ajudar. Pretendia chamar a vizinha. Touca seria a melhor saída. Sim, aquelas toucas de meia que rodeavam a cabeça. Sabendo da boa vontade da vizinha, que não era cabeleireira, inicia-se o processo de restauração capilar. A menina, ao adentrar a casa da vizinha, reclamava, fazia birra. Sentia-se humilhada.

Com os olhos inchados de chorar, a menina, que já está mocinha, implora para que a vizinha não coloque o adorno. “por favor, fale com a minha avó! Convença-a de que isso vai me deixar feia. Não quero passar vergonha. A rua vai rir de mim”. E a vizinha, morrendo de dó da pobre menina, ri da sua astúcia e responde: “não posso! Sua avó vai brigar comigo. Tente entender...”. O sol gritava no céu daqueles dias de pavor. Somente a sombrinha rosa com detalhes florais poderia esconder o feito da submissão.

E, assim, segue o triângulo doloroso entre a avó, a menina e a vizinha por longos e longos anos de cabelos longos. A menina moça foi crescendo. Descobriu a vida. Agora, anda por outros caminhos, conhece o mundo. Não precisa mais fazer a touca. Freqüenta salão de beleza. Aprendeu a beber e a fumar. Virou mulher. Uma jovem mulher. Saía todo final de semana. E, todo final de semana, quando voltava, a vizinha estava lá, no mesmo lugar. Sentada à frente do portão da casa, com os cabelos feitos e as unhas pintadas. Fumando seu hollywood, tomando sua brahma, batendo papo e rindo com os amigos vizinhos.

A jovem mulher, que sempre se perguntava o que a vizinha via naquele mundinho, decidiu se aproximar. Sentou, conversou, bebeu, fumou. E, desde então, nunca mais parou de freqüentar aquele portão. Sentiu um bem estar incondicional em fazer parte daquela roda. Diferente dos lugares que frequentava e da vida que a avó lhe obrigava. Pessoas simples, novas experiências, assuntos diversos. Gente de todas as idades: jovens, velhos, crianças e adolescentes. Mas, o que tinha aquele portão de diferente? Falava-se de tudo. Fazia-se amigo oculto. Em épocas de copa do mundo, enfeitava-se a rua do início ao fim. A quermesse da praça proporcinava o verbo encontrar.

Os encontros no portão da casa da vizinha se intensificam. Passam a ser às sextas e aos sábados. Tinha gente de todos os lados. Da rua de baixo, da rua de cima. A jovem mulher continuava saindo para os seus feitos amorosos e divertidos. Mas, não deixava de passar por lá. A amizade entre elas começa a vigorar. Se tornaram inseparáveis. A jovem mulher insistia em apresentar o mundo à vizinha. O mundo que ela conhecia fora daquele portão. Mas, a vizinha não gosta de andar de ônibus. O jeito era arrumar algum conhecido que, de carro, era provido. Eis que encontram um amigo que, tão disposto quanto elas, se prontificou a formar trio. Mas, de nada adiantou. A vizinha não sentia a mesma felicidade que tinha naquele portão.

A amizade passa a incomodar a avó que, de zelo pela vizinha, passou a brigar. Era ciúme doentio. Mas, a neta não se importava. Afinal, a sua avó haveria de ter ciúmes de todas as suas amigas futuras. Era amizade! Pura e sincera. Dessas que duram para sempre. Dessas que acontecem sem explicação. Algo de outro mundo. Quando enraivecidas pelas verdades jogadas à cara, brigavam como duas irmãs. Ficavam “de mal”. Quando retornavam, riam de tudo que acontecia. A amizade tomou tamanha proporção que, aqueles amigos vizinhos se foram, aos poucos. Uns casaram, outros passaram no vestibular ou, simplesmente, sumiram.

Chegava a vez da jovem mulher que, aos 25, depois de passar por vários tropeços amorosos, encontra o seu futuro marido. Os encontros com a vizinha passaram a ser raros. O macarrão talharim, regado ao molho de carne com queijo, feito pela mãe da vizinha, por vezes, ficava preparado, esperando a jovem mulher chegar. Mas, a jovem mulher já não teria mais tempo de dedicar. Casa-se. Muda-se de cidade. A distância fica cada vez mais distante. Telefonam-se. Até que o marido da jovem mulher volta para a cidade e, a amizade, poderia retomar.

Mas, uma visita à casa da vizinha a assustara. Estava mais magra. Os dentes brancos já não eram tão brancos e tão perfeitos como dantes. A mulher percebera que lhe faltava a vaidade. Será a diferença de idade? O portão estava fechado. Os amigos já não eram os mesmos tantos. O infortúnio lhe preparava a cama. A irmã da vizinha perde os movimentos do lado esquerdo. O sobrinho leva um tiro, enquanto reza, e fica paraplégico aos 25. Era muita tragédia para uma pessoa só agüentar. Amofinou-se. Deixou-se levar. A doença comia-lhe o fígado, o útero e o intestino. Médico algum iria lhe salvar. Não mais se alimentava. Não mais bebia a brahma gelada. Sem nunca ter namorado, morria de paixão, aos 50, em frente ao seu portão.