quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Procura-se um marido

Qual a mulher que não sonha com o príncipe encantado? Desde de criança, envoltas às fábulas alucinógenas do principado europeu, a criança mulher se espelha no objeto daquele consumo. Se faz, por vezes, substituir o nome de batismo pelo pseudônimo daquela figura com quem matem características fiéis de sonhos infindáveis. Basta agradar-lhe num sapatinho de cristal rosa e plumas esvoaçantes, para que a criança mulher se sinta a própria princesa dos contos de fadas. Enquanto isso, alguns pais, por incessante busca pela felicidade da filha, se entregam aos sonhos da menina que se segue no mundo das utopias. O que, por sinal, pode ser um erro grave de destino, afinal, esquecem-se daquilo que poderiam considerar como o mais importante para o futuro desta criança: a realidade.

Enquanto adolescente, a menina carrega consigo toda a fantasia lida. O sapatinho de cristal é guardado numa gaveta enquanto surgem outros objetivos indispensáveis na agregação da incansável busca do príncipe encantado. Para retorná-lo ao mundo atual, dividida entre fantasias e realidades, namora-se daqui, namora-se dali. Enquanto namora, observa. Enquanto observa, decisões lhe vêem à cabeça. A ausência de ações nobres não lhe permite continuar com aquele namorado, mas, continuar namorando. E, na sua lista de excluídos, nomes ricos e pobres são riscados. Mas, por onde anda o príncipe encantado que nunca chega? A hipótese do destino lhe vem à cabeça. Será que não é princesa? Seu pai nunca lhe dissera a verdade. Deixara acreditar que era a mais bela de todas.

Finalmente, o sonho acontece. Encontra o príncipe encantado. Casam-se, tem filhos.  Acredita que irá morar num castelo com um bosque a perder de vista. Acredita na felicidade eterna e, principalmente, acredita fielmente naquele homem que conseguiu lhe calçar os sapatinhos engavetados. Ao abrir os olhos, se depara com gotas pingando do teto do seu castelo. Levanta. Vai até a janela e observa a paisagem. Decepciona-se ao ver que o seu bosque se transformou num imenso lamaçal, obscuro e cinzento, coberto por cobras enlouquecidas para lançar seus venenos mais carbunculosos. Infeliz e decepcionada, volta para a cama. Lamenta-se ao marido, seu príncipe. E, entre conversas, descobre que ele é o seu maior inimigo. Para não se entregar à desilusão, abraça-se àqueles que lhe restam como parte íntegra da sua sobrevivência: os filhos. Entre idas e vindas, procura outra vida, outro marido.